Concerto The Mystery Artist – 31 Agosto em Carrazeda de Ansiães
Ou um clã à parte...
Integrado na XII Edição da Feira da Maçã, Vinho e Azeite, que decorre anualmente na vila transmontana de Carrazeda de Ansiães nos finais do mês de Agosto, o próximo concerto há muito que estava marcado na nossa agenda.
Trata-se de uma feira que visa sobretudo, potenciar o consumo e a comercialização dos produtos da terra, com especial destaque para o azeite, para a maçã e para o vinho, ou não estivéssemos nós a falar de uma das zonas demarcadas do Douro Vinhateiro, património da Humanidade.
Há quem diga que Carrazeda de Ansiães tem as maçãs "mais doces" e o melhor vinho de mesa que o Douro produz.
Entre algumas das curiosidades oferecidas pelo certame todos os anos, é o facto de ser possível assistir ao vivo e a cores, ao acto de pisar o vinho, por exemplo. Tarefa essa, ainda muito em voga por estes lados, e que para além de ser uma das formas de reunião e de convívio entre os populares, é também uma das fases mais importantes na arte de bem-fazer o vinho, e que, não obstante o passar dos anos, continua a marcar presença, essencialmente junto dos pequenos agricultores do Douro Vinhateiro.
Por isso, penso que existem motivos mais do que suficientes para que se visite esta zona e esta feira em particular. Naturalmente que a nossa actuação, será apenas mais um!
Quanto a esta deslocação da banda, é óbvio, que desta vez, quem está a jogar em casa sou eu. Por isso, desde cedo que os contornos deste concerto haviam ficado bem definidos com a organização deste certame, no caso, a Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães.
Como é natural neste tipo de eventos, fui informado de que no dia da nossa actuação, estaria também presente uma banda com outro peso no panorama musical nacional e que seria a cabeça-de-cartaz da noite. Os escolhidos para este ano seriam os portuenses CLÃ.
Óptimo, pensei.
Sempre gostei dos CLÃ, e a última vez que os vi ao vivo, creio que foi numa das Queimas das Fitas do Porto, já lá vão uns anitos.
Portanto, seria uma excelente oportunidade de pôr a escrita em dia, com uma das bandas nacionais que melhor faz o denominado Pop-Rock cantado em português e que se tem mantido fiel aos seus princípios, de fazer música simples, mas com enorme qualidade, principalmente, no que diz respeito ao nível da construção escrita dos seus temas.
Para além disso, fui ainda informado, de que à semelhança do que havia sucedido no mês de Julho, nas comemorações da Festa da Juventude (na qual nós havíamos participado em 2006), em que os Bandit´s (uma das bandas de Carrazeda) tiveram a oportunidade de abrir a noite para os Quinta do Bill, também nós iríamos ter o privilégio tocar no palco dos CLÃ. Nem queria acreditar. Era a cereja no topo do bolo!
Tocar num palco grande com o som feito por profissionais, e usufruir de todas as regalias que isso significa, como sejam, um sistema de luzes digno por exemplo, é o desejo e a ambição de qualquer banda que se preze.
Mas confesso, que o que me agradou sobremaneira, foi sobretudo a ideia, de termos a possibilidade de trabalhar com profissionais na verdadeira acepção do termo.
Não quero com isto dizer, que pelos sítios onde já tocámos, não houvesse profissionalismo (porque o houve!), e que não fizessem tudo o que estivesse ao alcance para termos as melhores condições possíveis.
Mas a verdade, é que uma coisa é tocar em bares, ou salas de concerto, que por vezes, por muito boa vontade e profissionalismo que exista, nem sempre oferecem condições de acústica ou de espaço condizentes, e por isso torna-se impossível fazer e exigir muito mais, e outra totalmente diferente, é tocar num palco de uma banda profissional que tem o seu próprio staff para o som, para as luzes etc.
Com todas as condições reunidas para proporcionar um excelente concerto, seria uma óptima oportunidade de demonstrar o que de facto valemos em cima de um palco. Para além disso, não é todos os dias que se tem a oportunidade e o privilégio de partilhar o palco com uma banda do calibre dos CLÃ.
Sem dúvida que seria uma experiência com a qual muito iríamos aprender, e sobretudo, seria mais um passo firme no nosso próprio crescimento, enquanto banda de garagem, ainda à procura do seu espaço num mercado cada vez mais difícil e feroz, como é o mercado musical.
Por isso, quando fui informado de todos os pormenores que iam rodear o nosso concerto, congratulei a organização pelo feito e disponibilizei-me a prestar toda a informação referente aos The Mystery Artist, para que nada fosse descurado.
E a verdade, é que umas semanas depois, lá estava eu a falar com os responsáveis técnicos dos CLÃ, dando-lhes toda a informação requisitada, nomeadamente Back-line e até um dos nossos discos, para que pudessem ter uma ideia aproximada do som que nós fazemos, e lhes fosse mais simples trabalhar connosco quando chegasse o tão ansiado dia.
Tudo parecia bem encaminhado, e ficou combinado que umas semanas antes, entrariam em contacto comigo, caso fosse necessário mais alguma coisa.
Sucede porém, que na passada semana fui informado pela Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, responsável pela organização do evento, que os CLÃ lhes haviam enviado um e-mail pedindo a exclusividade do palco para o dia 31 de Agosto, dando assim o dito pelo não dito.
Motivo apresentado: nenhum.
Apenas exigem a exclusividade do palco.
Por outras palavras, os CLÃ já não estavam interessados em ter mais nenhuma banda em palco que não fossem os próprios, pelo que teríamos de arranjar outro pouso se quiséssemos tocar nesse dia.
Face a este volte face por parte dos CLÃ, a solução arranjada para nós pela organização, foi colocar-nos noutro palco ao lado, que para além de ser mais pequeno, com outras condições de som, luzes etc., (ou seja, inferiores…) vai ser partilhado com uma banda de baile, que essa sim, pelos vistos, vai abrir as hostilidades naquela noite. É óbvio que essa banda me merece todo o respeito, mas convenhamos, não tem nada a ver com o tipo de som que nós tocamos....nem com o som dos CLÃ…
No fundo, nada tem haver com o som que se vai fazer ouvir no recinto durante aquela noite.
Para além disso, fui também informado de que agora só iremos começar a tocar por volta das 00.30 horas, e após o concerto dos CLÃ, que o mesmo será dizer, quando todo o povo já estiver em debandada geral.
Face a estas notícias, a euforia inicial que me havia invadido aquando da negociação deste concerto, depressa deu lugar à agonia.
Respeito a opção dos CLÃ e a solução para nós encontrada por parte da organização, mas não me posso coibir e colocar algumas questões:
1) Se os CLÃ não estavam interessados em partilhar o seu palco, porque é que só agora, a pouco mais de duas semanas do evento, comunicaram tal facto à organização?
2) Porque é que os CLÃ me andaram a fazer perder tempo com reuniões se o objectivo era exigir exclusividade de palco?
3) Qual o problema para uma banda como os CLÃ, com uma carreira musical sólida e com créditos firmados no panorama musical nacional, em partilhar o palco com uma banda de garagem como a nossa? Excesso de vedetismo? Apenas um laivo de vedetismo? Ou receio de perda de protagonismo???
4) Porque é que, pela segunda vez em Carrazeda de Ansiães, vamos partilhar o palco com uma banda de baile, sabendo à priori que os CLÃ, sendo a banda cabeça-de-cartaz da noite, nada têm a ver com esse estilo musical e nós muito menos?
5) Porque é que, pela segunda vez em Carrazeda de Ansiães, vamos tocar após a banda cabeça-de-cartaz? (O ano passado foi após os The Gift...)
6) Após o concerto dos CLÃ, qual é o tipo de público que vai ficar para ver o nosso concerto?
7) Não seria preferível, ainda que num palco ao lado do dos CLÃ, sermos nós a abrir a noite?
8) Será que o facto de ainda sermos uma banda de garagem, não nos dá a legitimidade de merecer ou de exigir outro tipo de trato?
Posto isto, o que vos posso dizer, é que embora tenham descido alguns pontos na minha consideração, vou continuar a ouvir os CLÃ, porque para mim, a música, pouco ou nada tem a ver com clichés de vedetismo a que muitos artistas ou pseudo-artistas, gostam de se agarrar a partir do momento em que entram no meio musical.
Desta vez, os CLÃ ficaram mal na fotografia, mas espero que ao menos, compensem a sua atitude, com um grande concerto, pois como admirador da sua música lá estarei para ver.
Da nossa parte, só tenho de agradecer à organização (principalmente à Ana, thanks!) o convite e a oportunidade de voltar a tocar em casa.
É sempre um prazer.
Nada posso apontar à Câmara Municipal que desde o início nos tem apoiado. No entanto, não posso deixar de fazer um pequeno reparo quanto à formulação dos cartazes, pois continuo a defender, que face à temática musical da noite, deveríamos ser nós a abrir as hostilidades e não uma banda de baile.
Repito, em situações como estas, em que há uma “banda grande” que é cabeça-de-cartaz, não faz sentido sermos nós a fechar a noite.
Quanto aos The Mystery Artist, banda subitamente “desapossada” do palco principal, quando transmiti este volte face aos restantes elementos da banda, é óbvio que o sentimento geral foi de desilusão.
As expectativas criadas tinham subido a um nível bastante elevado. Eu próprio, face ao que inicialmente me haviam “vendido”, e sabendo de que iríamos ter condições únicas ao nosso dispor, havia sido o responsável por incutir junto da banda, de que este seria “O CONCERTO”. Tinha de ser!
Já havia povo que estava disposto a vir do Porto, para assistir ao grande evento, e que agora, face ao horário da nossa actuação, dificilmente se deslocará para ver apenas os CLÃ, pois a hora é proibitiva para assistir aos dois concertos e regressar a horas decentes à Invicta.
O sentimento que reina actualmente entre nós, é de desalento pelo defraudar de expectativas, mas como é óbvio, nada disto vai impedir que a gente se entregue de corpo e alma e que faça tudo para que seja um bom concerto. Nada disto vai servir de desculpa para nada. Pois mesmo nas circunstâncias que se nos deparam, se olharmos para trás, reparamos que já tocámos em condições bem piores.
No fundo, o que temos de fazer, é encarar apenas este episódio de forma natural, aprendendo e crescendo com ele, pois servirá de exemplo para o futuro.
Agora, nestas, como noutras coisas que sucedem ao longo da nossa vida, só há uma coisa de que eu não prescindo: Respeito!
E na minha óptica, os CLÃ não nos respeitaram.
Será que era pedir muito?
mARK
Aqui fica a definitiva confirmação do sucedido.
Apesar do nosso nome aparecer em letras pequeninas (e com um "i" em vez do "y" que deveria levar em "Mystery"), valha-nos ao menos o consolo de termos ficado por cima do clã Carreira (que actua no dia seguinte...).